Luis Eduardo Sanches, TNP Advogados

A recente morte de Ozzy Osbourne em 22 de julho de 2025 trouxe tristeza aos fãs de rock e evidenciou uma face pouco conhecida dos bastidores da música: os labirintos burocráticos do mercado securitário, tão complexos quanto imprevisíveis para viabilizar shows de artistas veteranos.

Conhecido como o “Príncipe das Trevas”, Ozzy foi figura central do Black Sabbath desde sua formação em 1968 até sua saída em 1979, marcada por excessos com drogas e álcool.

Mesmo em carreira solo, manteve seu estilo irreverente — como no polêmico episódio de 1982, quando, durante um show em Iowa, mordeu a cabeça de um morcego achando que fosse falso, gerando uma das imagens mais icônicas da história do rock.

Pouco antes de falecer, Ozzy realizou seu último desejo: reunir os integrantes originais do Black Sabbath em um show nomeado “Back to the Beginning”.

Uma despedida não apenas simbólica, mas logisticamente desafiadora. Com o avanço do Parkinson, sua condição física gerou tensão com as seguradoras, que alertaram sobre os riscos de uma queda no palco — algo que poderia resultar em indenizações milionárias e praticamente impossíveis de cobrir.

Para contornar o impasse, Sharon Osbourne, sua esposa, tomou uma decisão ousada: garantir que Ozzy se apresentasse sentado em um trono personalizado em formato de morcego, permitindo que o espetáculo acontecesse dentro das limitações impostas pelas apólices de seguro.

Esse caso escancara uma realidade cada vez mais comum. O setor de seguros voltado a artistas veteranos enfrenta dilemas complexos: prêmios altíssimos, cláusulas excludentes, exigências médicas rigorosas — incluindo avaliações psiquiátricas — e franquias agressivas.

Se antes o seguro contra não comparecimento era algo rotineiro, hoje virou um luxo. Para artistas jovens, representa cerca de 1,5% do cachê.

Já para ícones como Ozzy, o valor pode ultrapassar os 15%, chegando a US$ 450 mil em prêmios para um show avaliado em US$ 3 milhões. Muitos artistas, como os Rolling Stones, optam por se auto-segurar, fugindo de contratos cada vez mais restritivos.

Ozzy conseguiu se despedir dos palcos e da vida em grande estilo, reescrevendo sua história uma última vez. Um artista que começou enfrentando demônios internos e terminou combatendo burocracias externas — tudo em nome da música, do legado e do amor ao palco. Seu último ato, sentado em um trono de morcego, é símbolo de genialidade, resiliência e de como o rock, mesmo nos bastidores, nunca deixa de ser revolucionário.